Rabiscos sobre certezas em constantes metamorfoses

rico não é o homem que coleciona e se pesa no amontoado de moedas, e nem aquele devasso, que se estende, mãos e braços, em terras largas; rico só é o homem que aprendeu, piedoso e humilde, a conviver com o tempo, aproximando-se dele com ternura, não contrariando suas disposições, não se rebelando contra o seu curso, não irritando sua corrente, estando atento para o seu fluxo, brindando-o antes com sabedoria para receber dele os favores e não sua ira. (R. Nassar)

Nome:

uma mistura de todos vcs.

24 abril, 2007

dentro de minha solidão.

_ É que na verdade nunca estamos sozinhos, pois sentimos sempre em nós uma porção de outras pessoas.

18 abril, 2007

qualquer relação com a realidade é mera coincidência*

(...)
E assim crescendo eu fui me criando sozinho
Aprendendo na rua, na escola e no lar
Um dia eu me tornei o bambambã da esquina
Em toda brincadeira, em briga, em namorar
Até que um dia eu tive que largar o estudo
E trabalhar na rua sustentando tudo
Assim sem perceber eu era adulto já
Eh, vida voa
Vai no tempo, vai
Ai, mas que saudade
Mas eu sei que lá no céu o velho tem vaidade
E orgulho de seu filho ser igual seu pai
Pois me beijaram a boca e me tornei poeta
Mas tão habituado com o adverso
Eu temo se um dia me machuca o verso
E o meu medo maior é o espelho se quebrar
(...)
* Versos da música ESPELHO de JOÃO NOGUEIRA

13 abril, 2007

não é derrota*

Uma pequena multidão insana movimenta os braços em sinal de reverência, a mão direita subindo e descendo na identificação do referão. Talvez a maioria daquelas pessoas ali não tenham ao certo dimensão da importância daquele acontecimento ou ainda, consciência plena daquele refrão. Ou, tenham, mas ainda não sabem o que fazer com isso tudo. Sem mitificações ou demagogia, essa é a realidade. Mas o fato é que aconteceu, e acontece, na cidade de São Paulo, uma tonta e agitada revolução poética vinda das periferias e favelas, do grito de uma juventude eminentemente negra e pobre. Enquanto minhas decepções pequeno-burguesas reproduzem-se, ainda permito-me observar essa cidade com a paixão inabalável que me mantém vivo, firme e forte. O personagem da vez é conhecido por Criolo Doido. Da primeira vez que o encontrei, desentendi por completo o sobrenome. Sujeito de conversa fluída, cheio de associações no pensamento ágil. Ontem, quando ele pegou o microfone, entendi. Ele roubou a cena, assaltou a mesmice dos meus ouvidos e fez minha consciência refém por alguns minutos. Criolo é insano, mas é lírico. Descontrolado, mas repleto de rimas precisas, contundentes, certeiras. Ninguém sai ileso. Dos arranhões até as feridas que nunca cicatrizam, estava ali na frente a poesia contestadora da nossa geração. Saberia ele próprio quão afiadas eram aquelas palavras que saiam de sua boca? E a pequena multidão repetia o refrão, o movimento em reverência criava uma energia emocionante.
É o teste
É a febre
É a glória
Não se corromper
Pra nós, já é vitória

É o teste
É a febre
É a glória
Procure ser feliz
Pobreza não é derrota
Os pensadores ecassílabos e os críticos musicais marxistas cospem a influência americana no rap como um desvio de caráter. Quanta ignorância mal digerida. Só a bossa nova branca pode "beber" de fonte gringa? Nos versos do Criolo está uma perspicaz descontrução do estereótipo capitalista que divide-nos entre "winners" e "loosers". Vencer na vida é enriquecer (A qual preço?). Criolo cria um hino da resistência periférica - e está lá, batalhando, criando e abraçando as oportunidades no cenário musical, e é essa sua plenitude. Ao invés de uma demagógica ode a pobreza e suas "virtudes", ele simplesmente honra sua raiz, compartilhando dignidade - peróla rara para todos ali presentes - com aqueles jovens que se identificam nessa luta. Levanta assim o "teste" essencial para uma nova possibilidade de ser e estar nessa sociedade, nesse mundo. Na loucura, a metralhadora não se aquieta. "Pau no cú dos comédia", gritava ele.
Nós somos possíveis e nada está perdido. Até porque, pobreza não é derrota, e ainda tem muitas batalhas para a nossa criatividade vencer. Um pouquinho de lucidez para dar passos firmes ao caminho doido, do Criolo.
Para Pedro Gomes,
com o meu pedido para me abrir novas portas nesse mundo do rap.
texto de Vitor Freire publicado no blog: http://vitorf.blogspot.com

12 abril, 2007

Sexo*

Negocinho confuso esse chamado comunicação. Tem gente que não sabe ler a linguagem do outro. Você diz que está comunicando por A+B os seus desejos, e "a pessoa" não saca. Você poderia também estar dizendo "o ser humano não se liga? Não entende? Não fala a nossa língua?". E então os sábios do universo responderiam em coro: "Não, esse ser humano não fala a sua linguagem, tente usar linguagem de gestos ou tente falar em alguma língua conhecida, como o português". Em vez de achar graça na forma como eu coloquei as coisas, leia de novo e leve a sério a mensagem. As pessoas na cama são como as pessoas fora da cama. Umas falam alto e claro, outras são tímidas, outras não percebem o que pode ser legal para seus parceiros. Essa gente com quem você transa pode não estar entendendo o que você fala, mas não desista! Diga sem enrolações: "faz deste jeito, eu gosto assim". Mas fale! Nem todos são adivinhos ou têm boa vontade para prestar atenção na comunicação dos outros.

Carolina Ribeiro , 41 anos, é²²²² psicóloga e, escreve no jornal Agora.